Oito
meses depois de ser vendida à gestora de recursos Latin America Equity Partners
(Laep), a situação da butique de luxo Daslu mudou da água para o vinho. A Daslu
foi comprada pelo valor simbólico de R$ 1 mil, além do compromisso da Laep de
saldar dívidas de R$ 65 milhões e aportar outros R$ 21 milhões. A companhia que
enfrentava dificuldades financeiras dobrou o tamanho de sua loja no shopping
Cidade Jardim, em São Paulo, abriu uma unidade no Fashion Mall no Rio de
Janeiro e está prestes a inaugurar uma terceira no Iguatemi da av. Juscelino
Kubitschek, também na capital paulista. Hoje, chovem interessados na
empresa. O diretor da Laep, Rodrigo Ferraz, diz que já recebeu cinco propostas
para revender a rede de varejo de luxo, entre compradores ou interessados em
fazer a abertura de capital. As negociações estão avançadas com três deles,
afirma Ferraz. “Não estamos fechados a nenhuma alternativa.” A virada da Daslu
é só um dos resultados dos fundos de private equity especializados na
reestruturação de empresas, que vêm crescendo no Brasil.
Rodrigo Ferraz, diretor da Laep: depois da Daslu, fundo busca novo investimento na Europa
Essas
carteiras compram companhias com sérios problemas de endividamento, renegociam
os créditos e mudam a gestão, para revender as participações com um bom lucro.
Seus investimentos mantêm as empresas vivas, geram receitas e preservam
empregos. Na Daslu, por exemplo, a Laep, além de conseguir um desconto na dívida
de R$ 80 milhões, que era alvo de recuperação judicial, entrou de cabeça na
gestão. “Colocamos uma equipe de confiança na empresa e implantamos um controle
rígido de gastos e investimentos”, afirma Ferraz. Outro investimento no
portfólio da Laep que pode ser revendido em breve, segundo seu diretor, é a
participação na Lácteos Brasil, resultado final da aquisição da Parmalat em
2006. Adquirida por R$ 20 milhões, a companhia tinha dívidas de R$ 900 milhões.
Com a marca recuperada, os ativos da Parmalat entraram na fusão que criou a
Lácteos Brasil, e hoje a Laep detém 24% da companhia, que fatura R$ 2,8
bilhões.
Sem
dar valores, Ferraz garante que neste momento a empresa já vale “muitas vezes o
que foi pago e poderá ser vendida assim que houver uma boa proposta”. O
objetivo de Ferraz agora é vender essas duas participações para investir em
outras. O alvo é a Europa, com empresas em crise prontas para ser
reestruturadas. “Estamos de olho em oportunidades em Portugal, Espanha e
Itália, pela facilidade das línguas e proximidade com o Brasil. Mas não
deixaremos escapar negócios no País”, diz Ferraz, com a experiência de quem já
resgatou da bancarrota companhias como Unidas, Gomes da Costa e Camil. Por
enquanto, a Laep tem poucos concorrentes na disputa por investimentos nas
empresas em dificuldades. Um dos fundos mais ativos é o Arion Capital, gerido
por Renato Carvalho, ex-Angra Partners. Seu investimento mais conhecido foi a
compra do grupo Maeda, um dos maiores produtores de algodão e grãos do País,
hoje incorporado à Vanguarda Agro (antiga Brasil Ecodiesel).
O
Arion pagou R$ 90 milhões pelo Maeda, assumindo uma dívida de cerca de R$ 400
milhões. “A empresa era operacionalmente muito boa, mas tinha crescido de
maneira descontrolada e investido fora do negócio principal”, diz Carvalho. O
Arion renegociou dívidas e comandou a venda de ativos como uma fazenda, por R$
110 milhões, e a participação na usina de açúcar e álcool Tropical para a BP
(antiga British Petroleum) por US$ 70 milhões. Depois do sucesso no Maeda,
Carvalho busca novas empresas do agronegócio. “Queremos investir em bons ativos
que estão sendo mal utilizados por problemas pontuais”, afirma. Alguns
investidores são mais ousados, comprando empresas em processo de falência para
vender seus ativos. É o caso da Orey Financial, que, depois de experiências na
reestruturação de dívidas de companhias como a fabricante de eletroeletrônicos
Gradiente e a companhia têxtil Teka, comprou duas massas falidas.
"O
investidor ganhou de três a cinco vezes o total aplicado nas falências " - Rodrigo Moratelli, diretor da Orey Financial
A
primeira é uma empresa petroquímica, num processo que se arrastava há 20 anos,
e a segunda, uma companhia de engenharia que fornecia para a Petrobras. O
diretor, Rodrigo Moratelli, não revela seus nomes por cláusulas de
confidencialidade nos processos. “No primeiro caso, conseguimos uma
rentabilidade de R$ 3 para cada um R$ 1 investido, e no segundo, de R$ 5”,
afirma. Moratelli está de olho na falência de uma empresa de eletroeletrônicos
com sede em Manaus. E avalia criar um fundo só para investir em imóveis
comerciais – de galpões a prédios – de empresas em dificuldade. O investimento em empresas problemáticas poderia ser muito maior
no Brasil, não fosse a insegurança jurídica que inibe a chegada de novos fundos,
especialmente estrangeiros. “A lei de recuperação judicial
ainda é muito recente, tem apenas seis anos”, afirma Carvalho, da Arion
Capital. Os gestores da Laep, por exemplo, tiveram mais de uma vez seus bens
bloqueados em razão de ações trabalhistas, embora a lei permita a venda de parte
das companhias sem que os passivos sejam transmitidos aos novos donos.
Muitos
juízes de primeira e segunda instâncias ignoram esse fato e bloqueiam contas e
bens dos novos proprietários. “Isso cria uma insegurança e afasta outros
investidores”, diz o diretor da Laep Rodrigo Ferraz. O imbróglio que se estende
há seis anos parece que terá fim com a decisão do Supremo Tribunal Federal, que
julgou não haver sucessão de passivos trabalhistas e fiscais na compra de
empresas em recuperação. Superados os problemas jurídicos, estes investimentos
devem disparar no País, acredita o advogado Thomas Felsberg, especializado em
reestruturações. Uma das condições para que isso ocorra está dada: é o grande
interesse na compra de créditos em atraso. “O mercado secundário de empréstimos
facilita a renegociação de dívidas das empresas e, portanto, as
reestruturações”, diz Felsberg. Já atuam comprando créditos podres grandes
gestores como o Bank of America Merrill Lynch, além de casas menores que
surgiram recentemente, como BRD- Brazil Distressed, Cultinvest, Ícone e
Root.
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