segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A gangorra da gestão


O ano de 2011 não tem sido fácil para os gestores de investimento. A crise da dívida soberana na Europa e o desempenho fraco do mercado acionário doméstico provocaram maior aversão a risco, levando a uma fuga dos investidores dos fundos multimercados e de ações.
Nesse cenário, as instituições que se concentraram em produtos mais conservadores e que têm grande participação de clientes institucionais conseguiram garantir o aumento da captação de recursos.
No caso das gestoras ligadas a bancos públicos, como a Caixa e BB DTVM, a expressiva participação dos fundos de pensão e do poder público na base de clientes ajudou as instituições a registrarem um aumento das aplicações nos fundos de investimento, mesmo diante da volatilidade nos mercados.


Na Caixa, a maior parte dos investimentos veio das entidades de Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) de prefeituras e municípios e de fundos exclusivos para empresas de grande porte, o que garantiu à instituição uma captação líquida de R$ 7,45 bilhões neste ano, até setembro. "Os clientes institucionais representam cerca de 20% das captações da Caixa neste ano", afirma Marcelo de Jesus, superintendente de gestão de recursos de terceiros do banco.
A instituição lançou neste ano diversos fundos voltados para as entidades de RPPS que têm buscado profissionalizar a gestão de suas carteiras. A maior parte desses produtos é de carteiras de renda fixa, atreladas a índices de inflação, compatível com a meta atuarial dessas entidades. Só a captação em carteiras de renda fixa totalizou R$ 6 bilhões neste ano, até 1º de novembro. "A Caixa tem um quarto do mercado de gestão das carteiras de RRPS, e captou cerca de R$ 1 bilhão nos fundos lançados neste ano voltados para esse segmento", destaca Jesus.
Já as empresas têm preferido investir em fundos multimercados exclusivos, o que garantiu à Caixa captação positiva nessa categoria, que somava R$ 1,5 bilhão no ano.
A atuação da Caixa durante a crise financeira de 2008, de reforçar as linhas de crédito às empresas diante da restrição de recursos das instituições privadas, ajudou a gestora a ganhar clientes no segmento de pessoas jurídicas, que tinha pequena representação até então.
Já no segmento de varejo, a captação da Caixa foi negativa, com a saída de recursos dos fundos para produtos de crédito privados como os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), afirma Jesus.
Na BB DTVM, a gestão das aplicações do poder público contribuiu para o aumento das alocações em fundos, representando 50,18% do total captado. Com isso, a BB DTVM foi líder em captação líquida, até setembro, que somou R$ 27,89 bilhões.
A gestora também tem ganhado mercado na gestão de recursos das entidades de RPPS e de fundos de pensão de empresas públicas e privadas. "Esse segmento de clientes tem crescido com o aumento da arrecadação de Estados e municípios", afirma Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM. Entre os clientes pessoa jurídica, o executivo também destaca o crescimento da participação de empresas de médio porte.
Os investidores institucionais, segundo Takahashi, têm aplicado mais em carteiras de renda fixa e de curto prazo. Essa última categoria é demandada principalmente por empresas e pelo poder público, para aplicações de caixa.
Os fundos de renda fixa, destaca Takahashi, têm apresentado boa performance neste ano, decorrente tanto da aplicação em títulos públicos, que ainda oferecem altas taxas de juros, quanto em papéis de crédito privado, como em Letras Financeiras e Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). "A gestora tem apresentado um bom nível de acerto em relação ao comportamento da curva de juros", diz Takahashi.
No segmento de varejo e alta renda, a BB DTVM registrou um acréscimo de 195 mil investidores, somando 2,070 milhão de cotistas.
No caso das pessoas físicas, a preferência tem sido por fundos que garantem a preservação dos investimentos, como os multimercados de capital protegido, e de renda fixa, que oferecem rentabilidade aliada à liquidez. Essa última categoria liderou as aplicações na gestora, somando aporte líquido de R$ 16 bilhões, até setembro, enquanto os fundos multimercados de ações tiveram saída líquida de R$ 3,3 bilhões e R$ 3,5 bilhões, respectivamente.
Diante da concorrência com produtos de crédito privado no segmento de private banking, a aposta da gestora do HSBC de reforçar a área de varejo de alta renda também se mostrou acertada. O banco ocupa a quinta posição entre as instituições que mais captaram neste ano, registrando aplicação líquida de R$ 4,36 bilhões até setembro, sendo metade captada no segmento de alta renda. "Reestruturamos no final de 2009 o HSBC Premier, com a contração de mais de 500 gerentes com o objetivo de aumentar a penetração da venda de produtos para esse segmento", afirma Alcindo Canto, diretor de distribuição da HSBC Global Asset Management.
Os aportes foram concentrados em opções mais conservadoras como em fundos de renda fixa e DI. "Mais de 85% dos recursos captados foram direcionados para essas categorias", diz Canto.
Aos poucos, porém, os investidores começam a olhar para produtos estruturados. O fundo multimercado do HSBC Aquamarine, que compra cotas de carteiras de outros gestores, por exemplo, teve grande procura no segmento de varejo de alta renda e conta atualmente com R$ 737,78 milhões sob gestão. "Com a Selic mais baixa, o investidor terá que aumentar a parcela de risco, aplicando em fundos de ações e multimercados", destaca Canto, da HSBC.
Outro fundo que teve grande demanda foi o HSBC Preços, lançado em fevereiro deste ano com o foco de investir em títulos públicos atrelados a índices de inflação. Essa carteira já captou R$ 250 milhões.
Já no segmento do private banking, a concorrência com produtos de crédito privado como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), CDBs e Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs) provocou uma queda na captação neste ano. "Os clientes private foram os que mais sentiram o aumento da aversão a risco e acabaram resgatando parte dos recursos em fundos", diz Canto, da HSBC.
Ao contrário do movimento verificado no mercado, a gestora do BTG Pactual teve captação nos fundos multimercados, que representaram 41,9% das aplicações líquidas no ano, somando R$ 11,295 bilhões, até setembro. "O BTG tem conseguido resultados satisfatórios nesses fundos, pois conseguimos aproveitar o fechamento das taxas de juros", afirma João Scandiuzzi, estrategista-chefe da área de asset management, que tem R$ 45 bilhões sob gestão só em multimercados.
A gestora conta com uma base diversificada de distribuição de fundos, que abrange desde gestores de fortunas a grandes bancos. Ela também registrou um aumento das aplicações em carteiras offshore, que somaram R$ 3,275 bilhões. "Oferecemos tanto hedge funds quanto carteiras com foco em Brasil e América Latina", diz Scandiuzzi.
Para o executivo, com a tendência da taxa Selic deve haver maior demanda por multimercados mais arrojados e fundos de ações que apresentem baixa correção com o Ibovespa.
Takahashi, da BB DTVM, também acredita que deve haver maior procura por fundos de capital protegido e de crédito privado. A gestora também pretende aumentar a oferta de carteiras que investem em ativos no exterior para clientes de varejo de alta renda e do private banking.

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