O ano de 2011 não
tem sido fácil para os gestores de investimento. A crise da dívida soberana na
Europa e o desempenho fraco do mercado acionário doméstico provocaram maior
aversão a risco, levando a uma fuga dos investidores dos fundos multimercados e
de ações.
Nesse cenário, as
instituições que se concentraram em produtos mais conservadores e que têm
grande participação de clientes institucionais conseguiram garantir o aumento
da captação de recursos.
No caso das
gestoras ligadas a bancos públicos, como a Caixa e BB DTVM, a expressiva
participação dos fundos de pensão e do poder público na base de clientes ajudou
as instituições a registrarem um aumento das aplicações nos fundos de
investimento, mesmo diante da volatilidade nos mercados.
Na Caixa, a maior
parte dos investimentos veio das entidades de Regime Próprio de Previdência
Social (RPPS) de prefeituras e municípios e de fundos exclusivos para empresas
de grande porte, o que garantiu à instituição uma captação líquida de R$ 7,45
bilhões neste ano, até setembro. "Os clientes institucionais representam
cerca de 20% das captações da Caixa neste ano", afirma Marcelo de Jesus,
superintendente de gestão de recursos de terceiros do banco.
A instituição
lançou neste ano diversos fundos voltados para as entidades de RPPS que têm
buscado profissionalizar a gestão de suas carteiras. A maior parte desses
produtos é de carteiras de renda fixa, atreladas a índices de inflação,
compatível com a meta atuarial dessas entidades. Só a captação em carteiras de
renda fixa totalizou R$ 6 bilhões neste ano, até 1º de novembro. "A Caixa
tem um quarto do mercado de gestão das carteiras de RRPS, e captou cerca de R$
1 bilhão nos fundos lançados neste ano voltados para esse segmento",
destaca Jesus.
Já as empresas têm
preferido investir em fundos multimercados exclusivos, o que garantiu à Caixa
captação positiva nessa categoria, que somava R$ 1,5 bilhão no ano.
A atuação da Caixa
durante a crise financeira de 2008, de reforçar as linhas de crédito às
empresas diante da restrição de recursos das instituições privadas, ajudou a
gestora a ganhar clientes no segmento de pessoas jurídicas, que tinha pequena
representação até então.
Já no segmento de
varejo, a captação da Caixa foi negativa, com a saída de recursos dos fundos
para produtos de crédito privados como os Certificados de Depósito Bancário
(CDBs), afirma Jesus.
Na BB DTVM, a
gestão das aplicações do poder público contribuiu para o aumento das alocações
em fundos, representando 50,18% do total captado. Com isso, a BB DTVM foi líder
em captação líquida, até setembro, que somou R$ 27,89 bilhões.
A gestora também
tem ganhado mercado na gestão de recursos das entidades de RPPS e de fundos de
pensão de empresas públicas e privadas. "Esse segmento de clientes tem
crescido com o aumento da arrecadação de Estados e municípios", afirma
Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM. Entre os clientes pessoa jurídica,
o executivo também destaca o crescimento da participação de empresas de médio
porte.
Os investidores
institucionais, segundo Takahashi, têm aplicado mais em carteiras de renda fixa
e de curto prazo. Essa última categoria é demandada principalmente por empresas
e pelo poder público, para aplicações de caixa.
Os fundos de renda
fixa, destaca Takahashi, têm apresentado boa performance neste ano, decorrente
tanto da aplicação em títulos públicos, que ainda oferecem altas taxas de
juros, quanto em papéis de crédito privado, como em Letras Financeiras e
Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE). "A gestora tem apresentado
um bom nível de acerto em relação ao comportamento da curva de juros", diz
Takahashi.
No segmento de
varejo e alta renda, a BB DTVM registrou um acréscimo de 195 mil investidores,
somando 2,070 milhão de cotistas.
No caso das pessoas
físicas, a preferência tem sido por fundos que garantem a preservação dos
investimentos, como os multimercados de capital protegido, e de renda fixa, que
oferecem rentabilidade aliada à liquidez. Essa última categoria liderou as
aplicações na gestora, somando aporte líquido de R$ 16 bilhões, até setembro,
enquanto os fundos multimercados de ações tiveram saída líquida de R$ 3,3
bilhões e R$ 3,5 bilhões, respectivamente.
Diante da
concorrência com produtos de crédito privado no segmento de private banking, a
aposta da gestora do HSBC de reforçar a área de varejo de alta renda também se
mostrou acertada. O banco ocupa a quinta posição entre as instituições que mais
captaram neste ano, registrando aplicação líquida de R$ 4,36 bilhões até
setembro, sendo metade captada no segmento de alta renda. "Reestruturamos
no final de 2009 o HSBC Premier, com a contração de mais de 500 gerentes com o
objetivo de aumentar a penetração da venda de produtos para esse
segmento", afirma Alcindo Canto, diretor de distribuição da HSBC Global
Asset Management.
Os aportes foram
concentrados em opções mais conservadoras como em fundos de renda fixa e DI.
"Mais de 85% dos recursos captados foram direcionados para essas
categorias", diz Canto.
Aos poucos, porém,
os investidores começam a olhar para produtos estruturados. O fundo
multimercado do HSBC Aquamarine, que compra cotas de carteiras de outros
gestores, por exemplo, teve grande procura no segmento de varejo de alta renda
e conta atualmente com R$ 737,78 milhões sob gestão. "Com a Selic mais
baixa, o investidor terá que aumentar a parcela de risco, aplicando em fundos
de ações e multimercados", destaca Canto, da HSBC.
Outro fundo que
teve grande demanda foi o HSBC Preços, lançado em fevereiro deste ano com o
foco de investir em títulos públicos atrelados a índices de inflação. Essa
carteira já captou R$ 250 milhões.
Já no segmento do
private banking, a concorrência com produtos de crédito privado como
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), CDBs e Letras de Crédito
Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs) provocou uma queda na captação neste
ano. "Os clientes private foram os que mais sentiram o aumento da aversão
a risco e acabaram resgatando parte dos recursos em fundos", diz Canto, da
HSBC.
Ao contrário do
movimento verificado no mercado, a gestora do BTG Pactual teve captação nos
fundos multimercados, que representaram 41,9% das aplicações líquidas no ano,
somando R$ 11,295 bilhões, até setembro. "O BTG tem conseguido resultados
satisfatórios nesses fundos, pois conseguimos aproveitar o fechamento das taxas
de juros", afirma João Scandiuzzi, estrategista-chefe da área de asset
management, que tem R$ 45 bilhões sob gestão só em multimercados.
A gestora conta com
uma base diversificada de distribuição de fundos, que abrange desde gestores de
fortunas a grandes bancos. Ela também registrou um aumento das aplicações em
carteiras offshore, que somaram R$ 3,275 bilhões. "Oferecemos tanto hedge
funds quanto carteiras com foco em Brasil e América Latina", diz
Scandiuzzi.
Para o executivo,
com a tendência da taxa Selic deve haver maior demanda por multimercados mais
arrojados e fundos de ações que apresentem baixa correção com o Ibovespa.
Takahashi, da BB
DTVM, também acredita que deve haver maior procura por fundos de capital
protegido e de crédito privado. A gestora também pretende aumentar a oferta de
carteiras que investem em ativos no exterior para clientes de varejo de alta
renda e do private banking.
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