sexta-feira, 24 de junho de 2011

DESAFIOS DA PROFISSÃO CONTÁBIL FORAM DEBATIDOS NA CONFERÊNCIA IBRACON 40 ANOS



A profissão contábil enfrenta uma série de desafios para continuar se desenvolvendo no momento atual e nos próximos anos, diante de tantas alterações em sua atuação provocadas pela convergência das normas brasileiras de contabilidade às normas internacionais e pelas mudanças no cenário econômico brasileiro e mundial. Para os que atuam com auditoria independente há ainda a convergência das normas de auditoria. A questão de recursos humanos está entre os principais temas desses desafios, pela falta de profissionais qualificados, o que está valorizando os profissionais. Ainda há muito o que se fazer para que os contadores e a profissão possam permanecer em evolução contínua. Essas foram algumas das conclusões do painel “Os Desafios da Profissão”, que encerrou a Conferência Brasileira de Contabilidade e Auditoria Independente – Ibracon 40 anos, realizada nos dias 7 e 8 de junho em São Paulo.

O painel de encerramento teve a participação do presidente do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Juarez Domingues Carneiro, do Diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Alexsandro Broedel Lopes, da chefe adjunta do Departamento de Normas do Banco Central do Brasil (Bacen), Sílvia Marques de Brito e Silva e da presidente da Diretoria Nacional do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil, Ana María Elorrieta. O painel teve como moderador o presidente em exercício do Conselho de Administração do Ibracon Nacional, Guy Almeida Andrade. Juarez Carneiro destacou que há pela frente grandes desafios para as instituições e profissionais que militam nas diversas áreas da Contabilidade, como acompanhar todo o processo de mudanças (IFRS, ISAs, XBRL, etc.) e questões que envolvem a legislação, como a Lei 12.249, que estabeleceu o Exame de Suficiência, que considerou como um tipo de fiscalização preventiva. Ele disse que o CFC está preocupado com o nível de ensino de Ciências Contábeis nas Instituições de Ensino Superior (IESs), em razão dos baixos resultados apresentados no primeiro Exame de Suficiência. “É necessária uma mudança no ensino das Ciências Contábeis. É importante que as IESs se preocupem em qualificar melhor os alunos. O exame tem o mínimo que um contador deve saber para exercer a profissão e, mesmo assim, houve um índice baixo de aprovações”, destacou.

O presidente do CFC ressaltou que a profissão avançou e o tão sonhado reconhecimento pela sociedade está ocorrendo. Porém, os contadores não estão preparados para isso. Citou como exemplo uma palestra de sensibilização em relação à adoção das normas brasileiras de contabilidade convergidas às internacionais que ministrou para empresários de Santa Catarina e que, ao final, os participantes disseram que era necessário falar isso para os contadores de suas empresas. Destacou que eram esses contadores que já deviam ter falado sobre isso com seus contratantes e deixaram de fazer, perdendo uma oportunidade. Para ele, é necessário despertar o interesse dos profissionais para todas essas mudanças. O Conselho tem registrados 292 mil contadores em todo o Brasil
Juarez Carneiro destacou a preocupação do CFC de que muitas organizações contábeis deixem de existir por não terem condições de se manter competitivas. Lembrou que Contabilidade é uma ciência da informação ligada à gestão. O presidente destacou que o CFC vem buscando um posicionamento estratégico do Brasil em relação à contabilidade. Citou as conversões sobre criação do GLASS (Grupo Latino-Americanos de Standarts Settings), incluindo América do Sul e Caribe, para levar ao IASB os anseios dos países da região de uma forma unificada. “É um processo inteligente e maduro de evolução”, destacou. Juarez Carneiro destacou que o atual momento requer mudança no perfil do profissional e é necessário fazer com que os profissionais acordem para as novas necessidades e realidades da profissão. Além disso, defendeu que os profissionais façam uma constante autovalorização, pois os problemas que envolvem a contabilidade são notícia e chamam a atenção da sociedade e, por isso a autoestima de todos deve estar em alta. “Os ventos sopram em favor da contabilidade neste País. Temos que aproveitar isso”, disse.
Comoditização

Alexsandro Broedel ressaltou que a Contabilidade tem que agregar valor a informação contábil. Para ele, há uma preocupação com o risco de comoditização da informação contábil, pois a demanda do mercado não é essa, mas sim que se atenda às necessidades do mercado. Para ele, é preciso sempre se perguntar se a informação é útil da forma como está sendo apresentada. “Mundo real não é commodity, a realidade é decidida na mesa de negócios e se comoditizar a contabilidade perde o valor real que ela ter”, disse.

O diretor da CVM disse que a Contabilidade deve estar calcada em dois pilares: confiabilidade e relevância. Para ele, a convergência das normas brasileiras às IFRS ajuda muito, mas a profissão não pode ter uma posição passiva e esperar que os reguladores definam tudo para o mercado. “Não dá para esperar que tudo seja feito de maneira obrigatória pelo regulador ou pelo CFC”, disse. Alexsandro Broedel afirmou que o contador tem que assumir sua função, pois consultores estão sendo contratados para produzir informações, como impairment, valor justo, etc., e os contadores simplesmente estão registrando na contabilidade essas informações. Para ele, o desafio é chamar para a profissão este temas, que são função básica. Destacou que não se pode abrir mão de produzir a informação contábil de alta qualidade e valorizar a profissão contábil, aproximando a relação contábil da realidade econômica, para que a informação contábil seja útil ao usuário, ajudando o mercado, inclusive o de capitais, a adotar decisões corretas. Silvia Marques destacou que, com o grande volume de mudanças, os profissionais de qualidade estão sendo valorizados e falta profissionais para contratação no mercado, o que chamou de “apagão profissional”. A chefe adjunta do Departamento de Normas do Bacen destacou que está sendo realizado pelo Bacen um trabalho para redução das assimetrias existentes entre o Plano Contábil das Instituições Financeiras (Cosif) e os pronunciamentos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). De acordo com ela, isso deve ser feito de maneira gradual, pois há impactos no sistema financeiro na adoção das normas. “O profissional da área contábil tem um desafio adicional: acompanhar dois conjuntos de normas e critérios contábeis, sendo um com base no Cosif e outro nos CPCs (IFRSs)”, destacou.

Múltiplas regulações

Ana María Elorrieta destacou que as múltiplas regulações que o profissional de contabilidade tem que conhecer, como as emitidas pela CVM, Susep, BC, etc., acabam por ser um desestímulo para a profissão. Para ela, um dos grandes desafios da profissão é a necessidade de se trabalhar para que se tenha uma regulação que garanta atender necessidade do usuário, porém garantindo também a qualidade. “Precisamos ter uma profissão com condições de sustentabilidade para o contador e o auditor independente, sustentabilidade para o contador do futuro, com relevância, excelência e modernidade”, destacou, declarando que o instituto está à disposição para ser ferramenta para atingir esses objetivos. Ana Elorrieta disse que um desafio fundamental é atrair e reter jovens para a profissão. Para isso, defendeu a necessidades de uma coordenação de esforços entre o CFC, os Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs), Ibracon, SESCON e outras congraçadas. Ana María Elorrieta destacou que outro desafio é a criação de um ambiente adequado para a qualidade das demonstrações financeiras e das auditorias. Para ela, o papel da governança corporativa, principalmente com o estabelecimento de comitês de auditoria, é fundamental pela melhora no oversight do sistema de controle interno da entidade pela interação totalmente diferente entre entidade e auditores independentes. A presidente do Ibracon disse que é preciso continuar investindo na qualidade da cadeia de valor das informações financeiras, iniciando com os preparadores, seguindo pelo conselho de administração, comitê de auditoria, auditores, analistas, reguladores e investidores. “Todos precisam de treinamento contínuo, inclusive por indústria e segmento, para assim assegurar a qualidade. Temos um programa de educação continuada para auditores."

Fonte: Blog do José Adriano Pinto
Data: 12/06/2011

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