O mercado de fusões e aquisições continua aquecido e tende a superar,
em número de operações fechadas, o desempenho do ano passado. Em 2012, porém,
o ritmo dos negócios pode diminuir, como reflexo da crise na Europa e nos
Estados Unidos, que não deve ser passageira e vai afetar o Brasil. Aversão ao
risco e falta de financiamento podem, em certa medida, fazer o capital
estrangeiro e o nacional pisarem no freio.
Mas, por enquanto, o clima é de animação nos escritórios de advocacia
e consultorias ouvidos pelo Valor. "Este ano está mais aquecido do que
2010 e a sensação é de que será melhor do que o ano passado", diz José
Samurai Saiani, sócio da Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.
No ano passado, o escritório, um dos mais ativos do país em operações
de fusões e aquisições, participou de mais de 40 negócios fechados. Neste
ano, até esta semana, já registrava 30. "O que é inédito é o fato de
empresas de todos os portes, pequenas, médias e grandes, estarem
negociando", diz Saiani, mais conhecido como Samurai.
Os objetivos para vender, comprar ou fundir negócios também são
variados - vão desde comprar aumento de capacidade de produção até resolver
um problema de sucessão entre sócios.
O ritmo dos negócios dos últimos dois anos e a demanda dos clientes
levaram a Machado Associados, um escritório de advocacia com 160 funcionários
em São Paulo, a fortalecer a equipe dedicada a fusões e aquisições. Seis
sócios e 30 advogados estão dedicados a essa área. "Mas há muita demanda
e estamos ampliando a equipe", diz Ricardo Silveira, sócio da Machado.
Nos últimos 3 meses, foram contratados quatro profissionais para a área de
fusões e aquisições e a expectativa é contratar mais dois ou três nos
próximos três meses. O escritório assessorou 12 operações em 2010 e neste
ano, até agora, já atuou em 16. Cerca de 60% delas envolveram investidores
estrangeiros.
A crise europeia e a estagnação da economia americana, por enquanto,
têm ajudado os negócios no Brasil, avalia Samurai, da Machado Meyer. Em busca
de um mercado mais aquecido, o capital estrangeiro interessa-se por empresas
brasileiras.
O fato de o real ter perdido valor em relação ao dólar contribui para
reduzir o valor dos ativos brasileiros. Mas uma operação de fusão ou
aquisição não costuma ser pautada por fatores conjunturais como esse - é a
estratégia de longo prazo que costuma pesar mais, diz Samurai.
O fortalecimento do dólar também gera um outro efeito no mercado. Luis
Motta, sócio da KPMG, observa que a alta da moeda americana costuma subir
"em um ambiente de risco. O gestor olha para o câmbio e tem mais cautela
para fazer negócios." Para Motta, a crise, que hoje afeta mais duramente
a Europa, mas tem potencial para espalhar-se pelo mundo, "pode durar
vários anos, e crise é sempre prejudicial para operações de fusões e
aquisições".
Em 2008, quando a quebra do banco Lehman Brothers espalhou a crise das
hipotecas americanas para o resto do mundo, o ritmo de negócios de fusões e
aquisições "vinha forte e desacelerou no último trimestre", lembrou
Motta.
Em 2007, o Brasil havia batido recorde desse tipo de operação,
chegando a 699 negócios fechados, segundo a KPMG. Em 2008, caiu
para 663. No ano seguinte caiu ainda mais, para 454. E em 2010, deu um
salto para 726 operações, um novo recorde. A pesquisa da
PricewaterhouseCoopers (PwC) segue o mesmo movimento, embora mostre números
diferentes. Em 2010, segundo a PwC, foram fechados 787 negócios.
Neste ano, o que já se nota é que, ao contrário do que vem fazendo o
Banco Central, bancos privados vêm sinalizando com juros mais altos para
operações de fusões e aquisições. "Estamos trabalhando na estruturação
de uma operação de financiamento de aquisição na qual dois dos quatro bancos
que fizeram propostas para o financiamento realizaram uma 'reprecificação',
aumentando os juros", diz Alan Riddell, sócio da KPMG.
Riddel acredita que a tendência é de aumento do número de negócios que
não envolvam dinheiro, como troca de ações. "Temos mais empresas
listadas em bolsa e que, portanto, possuem uma 'moeda' para realizar suas
compras, que são as ações", diz.
"Neste ano, se a crise lá fora ficar mais forte, o ritmo de negócios
aqui pode diminuir, mas não será algo tão drástico", diz Motta, que
prevê um novo recorde de negócios em 2011. O levantamento feito pela KPMG,
que considera operações anunciadas pelas empresas e publicadas pela imprensa,
mostra que "tivemos os primeiros nove meses deste ano bastante
aquecidos." O primeiro semestre foi o melhor da série histórica, com 379
transações, 8% a mais do que em igual período de 2010.
Alexandre Pierantoni, da PwC, diz que "a tendência é termos um
número recorde de transações neste ano". Fundos de private equity,
observa, têm se mostrado bastante ativos com a perspectiva de expansão da
economia brasileira.
Mas o aprofundamento da crise no exterior pode afastar o capital
estrangeiro, que se tornaria mais cauteloso. "Perderíamos esse vetor
aqui", diz Motta. De janeiro a junho, investidores estrangeiros
capitanearam 95 negócios com empresas brasileiras, 23% mais que no primeiro
semestre de 2010. O aumento de operações de investidores estrangeiros
comprando empresas estrangeiras estabelecidas no Brasil foi ainda maior, de
26%, com 58 aquisições. Mas o capital nacional ainda domina. Das 379
operações registradas até junho, 175 são entre empresas brasileiras.
Na pesquisa da PwC, o total de negócios registrados no primeiro
semestre foi de 359 - 40% envolvendo investidores estrangeiros.
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Fonte: Valor Econômico
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quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Brasil deve bater recorde em fusões e aquisições
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